Crônica - JOGANDO A CULPA NO VENTILADOR!!


Crônica publicada pelo jornal Agora em Jan/2009








‘Todo plano que conta com a participação de terceiros é fadado ao fracasso’







Se não me falha a memória, foi Napoleão Bonaparte quem imortalizou a frase que tão bem expressa a visão de muitas de nós - mulheres modernas - frequentemente acusadas de sermos individualistas e perfeccionistas – como se isso fosse um crime. Já diz o jargão: ‘quem manda melhor faz’; pior seria jogar tamanha exigência sobre os outros, não é mesmo? Mas, ‘cá pra nós’, às vezes acontece... E há momentos na vida em que o jargão ganha razão:

Exemplo 1: Você passou dois anos sem cortar o cabelo, virando uma verdadeira Rapunzel, só para poder fazer aquele corte descolado que viu na revista e quando enfim resolve cortar, vai ao melhor cabeleireiro, explica direitinho – e pressupõe que ele entendeu – afinal ele disse ‘ahãm’ três vezes enquanto você explicava - pois bem, basta uma tesoura afiada e um cabeleireiro distraído para, em dois segundos transformar seus dois anos de planejamento em dois meses de frustração!
O jeito é evitar o espelho nos primeiros dias e não bater nas amigas que ficam repetindo ‘ficou até melhor assim’ ou ‘cabelo cresce’ – Respire fundo e espere: com tempo e paciência elas acabam ganhando razão!

Exemplo nº2: Desde sempre você planeja o seu casamento; muito antes de haver um noivo – até por que ‘ele’ não tem nada a ver com isso, já prestou a atenção? É o vestido de noiva, a lista de noivas, o bolo da noiva - o noivo é só um coadjuvante, quase um adereço, entre as flores e os arranjos de mesa – e não é menosprezo não – escolhê-los é tão difícil quanto!
Até que um dia – enfim –chega o grande momento!
Por melhor que seja a equipe de trabalho ou a promoter contratada, por mais claro que você tenha explicado, desenhado e esquematizado pra todo mundo, ‘mais de um milhão de vezes’, onde ficar, como chegar e principalmente: a que horas - por mais perfeito que você possa visualizar a cerimônia, quando isso passa da sua mente para a de outros, é como brincar de telefone sem fio...
No fim das contas sempre tem alguém que erra – o horário, a igreja, o nome do noivo, o bom gosto, a dose!
E aí fazer o que? Chorar até borrar a maquiagem, inchar os olhos e ficar eternizada ‘na fita e na foto’ com aquela cara de ‘noiva cadáver’? Relaxe, pra tudo na vida existe um jeito – Edite: o filme e as memórias – delete tudo aquilo que lhe incomoda e dê destaque para o que lhe faz feliz!

Se nos deixarmos abater (ou traumatizar!) por estas pequenas e grandes decepções, somadas a correria de um cotidiano conturbado por tarefas domésticas e profissionais, nos tornamos cada vez mais individualistas – E a linha entre a autosuficiência por satisfação e por desconfiança é tão tênue que nem sentimos ao atravessá-la...
Perseguimos a perfeição – seja nas tarefas do dia-a-dia, nos outros, ou em nosso próprio corpo, mesmo sabendo que é ilusão – e uma tremenda autoflagelação! Como o cachorro que late perseguindo a roda de um carro - você já se perguntou o que faria se um dia a alcançasse? Provavelmente nada, pois perderia toda a graça, a emoção que mora na incerteza, na possibilidade da falha, na surpresa que leva ao improviso e faz das memórias ainda mais especiais.

O cabelo que você não planejava usar e agora arranca olhares inusitados; aquelas férias na praia, quando choveu o tempo inteiro e vocês acabaram passando muito mais tempo juntinhos; as passagens tão cômicas que só existem na filmagem do seu casamento porque as pessoas fugiram do planejado – tudo depende do ponto de vista, da tradução - em vez de ‘deu tudo errado’, por que não ‘foi surpreendente’, ‘foi inovador’!

Além disso, é humanamente impossível fazer tudo sozinho – mesmo para nós mulheres ‘multiuso’ – algum detalhe sempre acaba negligenciado e quanto antes você se convencer desta verdade e, eventualmente confiar em mãos alheias, mais leve ficará o peso sobre o seus ombros e se bobear sobra até um tempinho para amar mais – aos outros e a si mesma!

E quando algo sair ‘de forma inesperada’, não culpe a si mesma! Que tal jogar a culpa no ventilador? Deixe voar, dispersar, assim vai um pouquinho pra cada lado e não pesa muito pra ninguém!
Eu por exemplo, não estou certa de que a frase inicial foi mesmo dita por Napoleão, mas, se não foi, bem que poderia ter sido! A culpa não é minha!

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