Mãe é tudo igual

Publicada pelo jornal Bom Dia Comunidade em Maio de 2007


 Pregnant Woman Painting - Nooshin Zarnani


Pode ser muita ousadia da minha parte, talvez alguns considerem até um pecado questionar uma coisa destas, uma das verdades universais, repetidas nas mais diversas línguas, passadas de geração para geração -  acredito que esta seja uma das frases mais conhecida, e talvez até a mais repetida, mundialmente: “mãe é tudo igual”, mas será mesmo?

Pode parecer loucura, mas eu discordo!




O protótipo de mãe ao qual esta frase se refere é aquela mãe bondosa, generosa, que esquece de suas próprias necessidades em prol dos filhos. Tá certo que esta mãe é um tanto dramática e possessiva, super-protetora, mas é tudo sempre pensando no melhor para os filhos ou, ao menos, naquilo que ela considera o melhor...

-Era tão bom quando eu te levava na minha barriga, tu eras só meu, depois que saiu, cresceu tão rápido é agora eu não sirvo pra mais nada...

Àquela mãe coruja, que infla o peito de orgulho por qualquer besteira que o filho faça, que enche as paredes do escritório com os rabiscos do moleque e não perde a oportunidade de dividir com os amigos as últimas novidades de seu pimpolho:

-Ontem o bebê soltou pum na banheira e logo disse “olha, mamãe: bolinhas!”

A “mãe modelo” é tão intimamente ligada aos filhos que sente frio e fome por eles. Essa “super-mãe” é aquela que faz do pai um mero coadjuvante, não contente apenas com seu papel, ela tenta ser mãe, pai, professora e até melhor amiga dos filhos adolescentes... Desde que o assunto não seja namoro ou pior ainda: sexo! Pois para ela os filhos sempre são jovens de mais, bonitos de mais, inteligentes de mais...

A mãe modelo é mesmo assim, meio instável, mas isso porque, para ela, o mundo não é lugar bom o suficiente para deixar seu filhote sozinho. Por mais que exagere e pareça um tanto egoísta, ela ama de tal forma que, se pudesse, morreria antes que o mal sequer tocasse num fio de cabelo dos seus bebês, ainda que eles já tenham mais de 30 anos...

Concordo, a mãe modelo existe e não é tão rara de ser encontrada, da mesma forma que não é raro se encontrar outros tipos de mães: mães que abandonam, que batem, que matam seus próprios filhos antes ou depois de nascerem... Mães que vendem seus bebês sem saber que estão vendendo a própria alma. 

Mães que não maltratam, mas também não dão amor, deixam que seus filhos se criem por si só, uns aos outros, sonegando seu papel. 

Mães irresponsáveis, que dão a luz a um número de filhos muito maior do que pode criar, apesar do futuro que não poderá lhes proporcionar, das dificuldades que irá lhes impôr, sem lhes dar o direito de ser crianças, no real sentindo da palavra.


É revoltante pensar que, enquanto repetimos “mãe é tudo igual”, estamos cometendo a injustiça de nivelar a um mesmo patamar todas aquelas que passaram pelo mesmo processo biológico da gravidez, sejam elas às inconsequentes, as covardes, as assassinas, as cruéis, as indiferentes. Estamos chamando a todas essas de "mães", comparando-as às nossas próprias mães...


...desconsiderando todos os atos e sentimentos que fazem de uma mulher, tendo ela parido ou não, uma verdadeira mãe.

Comentários

Joana Mieres disse…
Linda crônica que quebra o paradigma, que rompe com a idéia a da maternidade como um conceito natural, mas que na verdade pode ser cultural e pessoal. Logo, as ações e reações de diferentes mães divergem e convergem e não são únicas!