Muito barulho por nada - Crônica









Publicada no Caderno
Mulher Interativa
Jornal Agora - Fev/10









Ah, férias: tempo de diversão e descanso... E arrumar os armários, o jardim, os sapatos... Todas as pequenas obras, os pequenos detalhes que o tempo nunca nos permite pôr em dia. E assim, lá se vai a oportunidade de recarregar as energias para suportar os duros dias que procedem ao tão merecido — e mal aproveitado — descanso.

É irônico que se faça mais planos para as férias do que para os outros nove ou onze meses do ano — levando em consideração que o tamanho das férias, para quem as tem, é variável, apesar de passar na velocidade de um piscar de olhos.

E mais irônico ainda é o fato de nos sentimos mal por não atingir a meta estabelecida. Isso porque há um preconceito social em relação ao acordar tarde, ao passar o dia no sofá, ao simples e singelo relaxar. Preconceito esse que nos torna culpados quando não fazemos o tempo render como deveria, quando nos permitimos um pouco mais de sossego do que o normal, quando atribuímos ao tempo vago sua função primordial: a de ser vago!

Não fazer nada é algo fácil, pois implica em fazer algo, mas experimente fazer absolutamente nada durante um dia sequer. Não se engane, é uma tarefa muito mais difícil do que se supõe. E para ser bem sucedida requer corpo e mente em harmonia e dedicação integral. Fazer nada corresponde a um intervalo no corre-corre do dia-a-dia — onde até as palavras parecem ter pressa.

É como se o tempo fosse um adversário a ser vencido, um inimigo silencioso que tenta nos roubar aquilo que temos de mais precioso, um obstáculo ao qual precisamos contornar. E a ânsia por tal confronto acaba consumindo os melhores momentos ao tornar o relógio uma ameaça constante, um placar que exibe o avançar do inimigo, vez ou outra soando alto seu progressivo sucesso, como se por meio de badaladas gargalhasse nosso aparente fracasso — sorte que as aparências enganem!

Enquanto não pudermos passar um bom tempo desplugados do tic-tac imaginário, não compreenderemos que tempo gasto em coisas boas — não necessariamente educativas ou construtivas — é tempo ganho, pois nenhum tempo bem aproveitado é perdido. E por bem aproveitado entende-se aquilo que melhor satisfaça a cada um, seja o que for, sem que haja a necessidade do consentimento alheio.

Quando fizermos do tempo um aliado, aprenderemos que a velocidade com que ele passa pode se tornar relativa, pois mesmo um breve instante recém-passado pode se tornar eterno às memórias. E assim, o que é bom deixa de durar pouco e o que não é tão bom, pode-se simplesmente deixar passar, ir e se esvair com a efemeridade do tempo ao qual chamamos presente.

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