Há de haver

Ilustração de Yoshitaka Amano

Coma-me
Enquanto a carne é vasta
E a espera, curta
Ande: rasgue, morda
Algum de nós há de tirar
Pequenas lascas
Algum de nós há de quebrar
Em diversas partes
Essa insossa casca
E se porventura lambes
A procura de sabor
Eu, na ânsia do sentir
Interpreto por carinho
Algum de nós há de partir
Ainda que meio sozinho
Aquilo que é inteiro sofrer
Algum de nós há de curar
O que é ferida a sangrar
O que é mordida a doer
Algum de nós há de aplacar
A fome da despedida
Algum de nós há de sair
Ileso desta disputa
Algum de nós há de fugir
Da morte certa
Da cova aberta
Da vida bruta

Comentários

Anônimo disse…
Nossa! É o tipo de poema que você fica lendo, relendo e se perde em possibilidades...abraços.