Homens -crônica

Publicada no caderno Mulher Interativa - jornal Agora [18/19 de junho de 2011]

Ilustração de Lorde Lobo


Gostava da dureza de suas vozes, faces, músculos, mãos e outros membros. Vez ou outra, via um exemplar perfeito da espécie a expressar toda a sua imperfeição. Eles levavam algumas vantagens sobre nós, na força para lidar com coisas brutas, feito tampas, tapas e trincos. Eram menos perdidos que nós, mas nem por isso deixavam de se perder entre nossos cabelos, colos e pernas - entrelaçados...

Quase sempre queriam estar por cima. Ocupar o topo, encabeçar a lista, mas só vinham quando deixávamos de chamá-los, e, quando exaustas e já roucas de tanto apelar em vão, deixávamos. E então, eles vinham... vinham afoitos, vinham à espreita, vinham em bando, vinham e vinham, mas no fim do caminho nunca chegavam. Não quero dizer com isso que, de alguma forma, perdiam-se. Nunca. Mas...

Perdiam-nos. Sempre! Ou éramos nós que, ao seguir a natureza, andávamos em círculos, ora a enrolar, ora a desvencilhar, e assim acabávamos por deles nos perder. Afinal, são eles a ocupar o centro do mundo. Nós, apenas orbitamos ao redor, rodeamos... ou assim os fazemos pensar.

"Nossa persuasão pode construir uma nação" 
[como diz na música "Run The World (Girls), ou Mandam no Mundo (Garotas)", de Beyoncé].


A verdade? Ah, a verdade é uma incógnita e assim deve permanecer. O segredo faz parte de um jogo que, até onde me cabe aqui dizer, não é do interesse de nenhuma das partes interromper, ganhar ou perder.


"Mulheres: gostava das cores de suas roupas do jeito delas andarem da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura."
- de Charles Bukowski, texto que inspirou esta crônica.

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