atravessada

Piercing by Mckean
Sempre que lhe dou
as costas
o passado me atravessa
feito saudade
feito navalha

quente que corta
a carne sem sangrar

meu corpo
inteiro é
ferida aberta
a doer, a alma
(incerta) a congelar

e ja não sinto as pernas
e já nem tenho os braços

e já
nem sou
e já nem sei
de onde vieste?
mas sei que aqui estás

cravado neste agora
que não tarda a findar

fundido num tempo sempre
mais longo que as badaladas
podem cantar, mais lento
que sabe ele contar
o ponteiro, o pequeno

se eu tivesse olhos
nas costas estaria deles cega.

Comentários

Anônimo disse…
"se eu tivesse olhos nas costas estaria deles cega"

Satisfação enorme em acompanhar o nascimento de um poeta, mas é ainda maior ver sua poesia crescer.

Excelente, Ju.