Apelo seco

by  L a u r a  L a i n e

Sufoco
em plenos
ar e pulmões
e no primeiro que dos segundos sai
ainda quente, quase úmido
como são [ou costumavam ser]
os corpos: entregues, perdidos
entre a volúpia e a alucinação
aspiradas em um momento recém-
comido, da vida
trazida, tragada em baforadas
ora circulares
ora disformes
até que de todo seque
a garganta e já não haja saliva
para trocar, para cuspir
para manter abertos os canais
por onde o ar precisa
correr para encontrar e preencher
a bolha que jaz

já quase murcha
no meio do ser.
sufoco
não por falta de meios
nem de ares que me impeçam
o colabar da bolha
mas por não mais ter
saliva
que me permita dizer
ao ar e a tudo aquilo
que me é precioso:
"venha e
faz-me nova-
mente cheia
do que quer
que seja
que preciso
para o dia-a-dia
inspirar e assim
re.viver"

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