Do bom e do melhor

Crônica publicada no Mulher Interativa do Jornal Agora // Ilustrada por Lorde Lobo

"Stay true, stay you"
"Seja verdadeiro, seja você mesmo", dizia o cartaz de certa campanha lançada numa popular rede social. O mesmo dizia ainda "Nunca traia seus valores!" – ainda que para isso tenha que trair um amigo, decepcionar um amor ou magoar um inocente? Eis um grande dilema entre os dramas e tragédias de uma vida real. Dilema este que não cabe em qualquer imagem virtual – não se ela quiser se manter por tantos curtida:

Até que ponto a verdade é suportável?  
Até que ponto vale a pena manter-se fiel a ela, quando ninguém mais, além de sua própria consciência, apreciará isso?

A autenticidade é uma espécie de teimosia. E para suportar, tanto ela quanto os pormenores por ela gerados, é preciso ser firme, mesmo tendo em si a certeza de que tal firmeza acabará, muitas vezes, confundida com frieza. Ser autêntico requer ser também autossuficiente – o que ninguém de fato é, não importa o quanto assim se almeje ser: "ninguém é tão alguém que nunca precise de ninguém". E assim, o velho jogo segue...

As relações humanas se baseiam em muitas coisas, tantas que já não creio haver espaço para a verdade entre elas. Claro que há casos e casos e exceções em todos eles e que o bom-senso deve imperar “agora e sempre amém”, mas quem nunca se viu numa encruzilhada onde sabia qual era o caminho certo – aquele que, uma vez trilhado, nos garante um sono tranquilo, ainda que seja o mais obscuro deles – e sabia também qual o que todos esperavam que seguisse?

Melhor seria satisfazer as ânsias alheias e pôr a consciência num saco pardo, como um gato enfurecido com o qual se precisará lidar - sozinho - mais tarde? Ou manter o passo firme no caminho reto e enrijecer a carapaça para receber as pedradas dos insatisfeitos – que surgirão mesmo dos flancos que se acreditava estarem mais protegidos?

Talvez fosse melhor parar, abandonar qualquer caminho, cavar no chão um buraco e nele viver feito um ermitão? Atirar-se de vez à misantropia e desistir de entender as regras desse tão complicado jogo ao qual chamamos de sociedade: o jogo do enganar voluntário que evita o sofrimento que muita verdade acarreta.

Evita?
Mascara!

E lá estamos nós, de expressões devidamente encobertas, alegremente inseridos entre cordas e amigos de pano no teatro de marionetes em que interpretamos viver. Bom que a máscara traga ao rosto um sorriso congelado, pois se guardar uma lágrima, essa jamais encontrará o chão – uma vez que está pintada [e nem toda a tinta permite deslizes] e outra que, nesse cenário, não há e nunca haverá um chão.

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