Mas será o fim do mundo?

Crônica publicada no Mulher Interativa do Jornal Agora // Ilustrada por Lorde Lobo

E, mais uma vez, o fim do mundo se aproxima
Ao menos segundo o calendário Maia. A previsão pode ser antiga, mas os indícios, visíveis e inconfundíveis, são adequados aos tempos modernos. Os sinais do fim dos tempos nos chegam por todos os locais onde se possa conectar, através de casos que todo mundo conhece – até mesmo a Luíza, que já não está no Canadá!

Comecemos pelo caso das quadrigêmeas de Taubaté, onde uma mulher, ostentando um bizarro volume abdominal que mais parecia uma bola gigante que uma barriga humana, ganhou a atenção da mídia, mobilizando auxílios de todo o tipo para seus supostos bebês. Questionada quanto à veracidade da gestação, a pedagoga barriguda subiu nas tamancas e correu para bem longe da mídia. Ela e o marido poderão agora embalar, não quatro bebês, mas pelo menos uns dois processos: estelionato e falsidade ideológica.  

Lamentável que a televisão apresente um circo onde os palhaços estejam do lado de fora da tela.

E da TV para a internet a notícia se agiganta! Não demoram a pipocar manifestações pelas redes sociais – afinal, nos dias de hoje, opiniões existem para serem postadas, curtidas e compartilhadas, mesmo as mais preconceituosas e equivocadas. Mais lamentável ainda é que os casos mais graves não ganhem a mesma atenção, nem causem a mesma comoção. Ter um fundo de absurdo parece o mínimo necessário para se despertar o potencial viral.

Absurdo como o caso do Yorkshire assassinado pela dona. Enquanto a revolta de uns fez disso o crime do ano, a de outros insistia que foi “só” um cachorro, enquanto há tantas crianças vítimas de maus-tratos pelas quais não se protesta com o mesmo afinco – o que não deixa de ser verdade, embora isso não devesse se tornar uma competição − o foco está na violência e não no alvo dela, no perigo que representa para a sociedade alguém capaz de matar um ser indefeso – o cão – e em frente a outro – uma criança, fato este que poderá trazer implicações legais, uma vez que matar animais não seria o suficiente.

Pode faltar foco, faltar assunto, mas nunca, jamais, faltará espaço para piadas de todo o tipo. 

Isso porque o limite entre o drama e a comédia é uma espécie de incógnita e rir da desgraça alheia parece desopilar a alma. Para os piadistas compulsivos, vale lembrar o caso do comediante Rafinha Bastos, recentemente sentenciado a pagar uma gorda indenização por danos morais a uma certa cantora, graças a uma 'piadinha' de gosto duvidoso. Portanto, por mais convidativo que lhe possa parecer engrossar o coro dos debochados, é sábio manter um mínimo de bom senso − se a internet é terra de ninguém, num mundo sem lei, cada cabeça é seu próprio guia. A menos que você esteja disposto a retuitar também o status do comediante em que esse se dizia "ocupado: catando moedas".

E sempre há um reality show para alimentar a bizarrice televisiva. No caso da bebedeira seguida de intimidades sob um edredom onde não se sabe se havia alguma consciência, chocante é também todo o preconceito manifestado – e pelas mulheres! Mais uma vez, problema de foco, dentro e fora da tela − e de falta de informação: havendo suspeitas de um estupro de vulnerável, o Ministério Público é obrigado a investigar o caso, sem a necessidade de denúncia. Incrível que os milhares de telespectadores que testemunharam o evento mais prejudiquem que ajudem a solucionar o mistério, jogando pedras para todos os lados, sobretudo no que diz respeito às regras do jogo, quando deveriam questionar as bebedeiras e orgias, o abuso e a falta de noção em rede nacional – e, afinal, quem deveria ser eliminado? Boa pergunta.

Tem muito sapato apertando no lugar errado, incrível que se consiga caminhar desse jeito! 

Já cantava Lulu Santos: "Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade". A irresponsabilidade da mídia faz lembrar outra música (Televisão, Titãs): "É que a televisão me deixou burra, muito burra demais. E agora eu vivo, dentro dessa jaula junto dos animais...". Trocar as tela pelo aparelho de som poderia ser uma boa sugestão para nos livrar do fim do mundo que se apresenta – não fosse Michel Teló e seu sucesso internacional de frases sem nexo repetitivas...

É, pelo visto, o fim dos tempos em 2012 é mais que um mero meme* que todo mundo no mundo todo compartilha.

*Meme: unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Definido por Richard Dawkins em O Gene Egoísta, 1976.

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