Versos narrados numa madrugada silenciosa


Conto-poético no qual se baseou a crônica "Ligações in.ternas", publicada no caderno Mulher Interativa do Jornal Agora, RS, em 19/20 de maio de 2012.

by Ju B.

E eis que na calada da noite
bateu nela uma puta
saudade dele.

Irônia... calada por não ter com quem falar
e quando, há pouco, tinha
não sabia o que dizer.

Não que todo dizer seja necessário.
alguns silêncios são fundamentais, mas a maior
parte deles a deixa constrangida.

Olhou a hora no relógio do computador.
era tarde, tarde demais para sentir
saudades? não. Tarde demais para ligar

por conta disso.
deitou-se na cama sozinha
a pensar no que diria, se ligasse

diria o óbvio
e a saudade continuaria no mesmo lugar
mas ele, sabendo dela, talvez não.

Ah, a maldita expectativa de um roupante
romântico, um furor que só existe na ficção
escrita por alguém que usa palavras idiotas

feito 'roupante' e 'furor'. só queria
que ele saísse de onde quer que estivesse
[em casa, sozinho, esperava ela] e se materializasse ali

mesmo que fosse para ficar
naquele silêncio constrangedor. percebia
agora: até do silêncio dele tinha saudades!

Desde que passaram a estar
juntos tinha essa melancolia sempre
que se via sozinha

e nessa noite, leu algo que a fez maior
e então não ligou. curtiu o silêncio à distância
e o que mais a saudade pudesse fazer crescer.

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