Uma bela peça

"um saco", por Ju B.

Crônica publicada no jornal Agora, RS, caderno Mulher Interativa, jun de 2012.

Chegaram as roupas limpas. Passadas, dobradas e perfumadas. Nenhuma mancha sobre elas se via, nenhuma dobra desnecessária qualquer uma daquelas superfície trazia. Pregados vieram os botões que ameaçavam delas cair - a decadência, que o tempo faz pairar sobre todas as coisas, nelas não encontrara lugar para estar. Impecável... eis a descrição que melhor caberia àquelas peças... já àquela que deveria nelas caber...

Ao desfazer a pilha cuidadosamente organizada na sacola tão limpa quanto as próprias roupas, notou que uma se encontrava destacada - um saco transparente a isolar uma peça branca dentro do grande saco que ora levava, ora trazia suas coisas, sujas e limpas, limpas e sujas, de um lugar ao outro, de um estado a outro de conservação.

Ao separar a única peça coberta de suas irmãs nuas, pegou-se a deduzir o porquê daquele isolamento plástico. Desfez o embrulho, desfez as dobras perfeitas que a tornavam tão pequena - pequena o suficiente para caber no envoltório plástico que lhe protegia. Uma vez descoberta, descobriu se tratar de uma mera camisa. Uma camisa branca, meia manga, acinturada, fechada por botões, brancos também. Uma camisa... uma simples camisa que nada tinha de diferente das outras, exceto que era um pouco mais longa que a maioria e que, por um dia cair tão bem, tornara-se especial para aquela que a vestia.
Igenuamente, perguntou o porquê daquilo e descobriu que alguém a havia julgado inadequada para ela. A camisa à mulher estava, aparentemente, pequena. Fora condenada ao desuso, assim como aquela que a tinha apreço.

Mulheres têm o tamanho tão variável quanto a fase da vida pela qual passam, pela hora do dia e pelo quão bem ou mal lhe caem "certas" roupas e comentários. E ela agora vivia uma fase bem ampla, atribulada. Ainda que fosse uma boa peça, sentia-se amarrotada - e agora, um tanto magoada. Deseja o mesmo isolamento que sua camisa favorita encontrava no interior daquele saco plástico, mas não havia saco que a guardasse daquele julgamento implacável.

Certo que a pequenês, definitivamente, não lhe caía bem. Certo que camisas não encolhem dois números numa única lavada - ao menos não as de qualidade, quando bem cuidadas, enquanto as mulheres... certo que sim. Ainda que o material que do qual era tecida fizesse dela uma boa peça.

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