acerca dela

Para Angélica Freitas e 
(àquele 
de quem roubei 
 no Natal) 

fica a dica


Eu quero ser uma mulher daquelas
dos poemas
do livro
da Angélica Freitas

eu quero ser uma mulher
enorme
e ainda pequena
pensada
criada
crescida
parida
prensada
sofrida
querida
pela Angélica Freitas

eu quero ser
A mulher
dos sonhos dela
(desde que não sejam eróticos
ou então, pesadelos, mas
entre um e outro fico
melhor com o primeiro)

quero pensar mais
que falar
e escrever acima de tudo
acerca dela
sem reticências
sem renitências
ou implicâncias
com cacofonias
ou qualquer outro tipo
de mau
gosto ou vício

afinal
o que tem de mais
em 'ser cadela'?
deixai que seja
eu e ela (nós
em qualquer ordem)
que sejamos, porra
-porra, não (que isso
é ou finge ser um poema
de mocinhas
de calcinhas
de boas
famas e famílias)

que vez
ou outra sejamos
cadelas, sim
que ladram - e mordem!
e, uma vez satisfeitas
abanemos nossos rabos
ricos rabos
e deixemos a língua
livre, sempre livre
a correr por aí
e a lamber o cu
daqueles que amamos
- há todo um universo

nas redondezas
esperando para se deitar
e dormir
até morrer
na boca dela

por fim
eu quero caber
no útero dessa tal
de Angélica Freitas
uma mulher tão estranha
que me parece
de carne e osso
e papel – isso é algo
que me soa
tão bem que
ah...
dentro dela eu
quero estar também!

...


[enquanto escrevo
sobre o que li, me sento
e me sinto
encolhida
quietinha
quentinha
bem
pequeninha
acolhida dentro das páginas
de um livro que não é meu
tenho ele numa mão
- a aberta
enquanto a outra
permanece fechada
-é um punho!
e não passa disso
sou pacifista
e agora
ele me parece de luta
e agora?
e se parece com um útero
mas de quem?
penso que o meu
não há de ser
ele, que cabe tão bem a uma mãe
ainda é grande demais para caber
numa mão

trago o livro que não me pertence
nem em autoria nem em posse
e na outra, trago o quê?
apenas um punho pronto
e cansado de estar assim
- punho fechado quer briga
punho de útero é de guerra
mas o meu, dia-a-dia
continua em seu trabalho
árduo, tedioso
pacientemente
a se fechar
pacificamente
pronto
a esmurrar
com toda força
e carinho
novas
pontas
de velhas facas]

...


Desculpe, querida Angélica
esse poema deveria
tratar de você
e nada mais
mas, você sabe como é
imagino eu
que poemas são bichinhos
terríveis!
fazem o que querem
e como querem
e quando querem
e não devem nada a ninguém
e não estão nem aí
nem para você
tampouco para mim.
os poemas só estão aí para si mesmos
é isso
o que eu acho
mas de achismos, ismos, ismos
não se faz (bons) poemas:
desculpe a longa lida (lon galida...
- quando, diabos, isso há e ter fim?
agora) – ufas!

Comentários

Daniel Moreira disse…
Lindo demais Ju!!! Curti muito! Bjss