do brilho dos olhos da tela

E de repente se viu
refletida no escuro
daquela tela
os olhos
muito redondos
e tristes
e brilhantes
como sempre
a boca
bonita
meio torta
o rosto apoiado
sobre a mão esquerda
dedos longos
unhas mal feitas
cabelo bagunçado
como se tivesse acabado
de acordar, e não tinha
mas achava bom assim
tudo do jeito que estava
exceto pela tristeza
caindo daquele olhos
e por duas rugas
fortes
que guardavam pesar
entre as sobrancelhas
e o claro
da tela que nunca, nunca vinha
trazendo consigo o motivo
das rugas estarem hoje
mais fundas que antes
do entortar da boca
e da tristeza dos olhos
- do brilho, do brilho, não.
dele o motivo não cabia em telas
claras ou escuras.
pensava se ainda estaria ele ali
quando o rosto fosse mais torto
e as rugas, mais profundas
pensava se ele faria
alguma diferença
em meio a tudo isso
algum dia.

gostava de pensar
que sim
enquanto o
claro
não vinha.


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