Poemas de Louise


Breve Chama
Se lhe olho duas vezes meu sol anoitece
E toda a alegria é triste.
Já não lhe sinto como antes
Mas ainda lhe vejo
E isso toca o meu mundo.
Queria lhe passar um pouco da paz
Que inunda meu ser
Mas quando tento doar – recebo
E toda a calma estremece
E a chama, hoje em brasa,
Dói no fundo,
Onde já não ando mais,
Onde já nem lembro mais
E onde quase não sinto mais...



O Lobo e a Raposa
Ainda ontem sentávamos lado a lado,
Existia uma leve pluma pairando no ar,
uma semente prestes a germinar,
Por pouco nossos olhares se tocaram,
Mas agora um rio corre entre nós.
Não ouvi quando a casca se quebrou,
Não vi quando a flor murchou,
Mas senti o momento, o exato momento...
Em que algo no meu coração morreu.
E embora esta flor não deva florescer,
Embora o lobo e a raposa não percorram o mesmo caminho,
Não vejam o mundo com os mesmos olhos,
Eu sei, todo meu ser percebe que nem tudo morreu.
Uma pequena fagulha ainda pulsa e espera
O tempo que for preciso para arder
Em uma viva chama que
Dói, queima e aquece...





O vento
Ele veio - embora sempre tenha estado lá
Ele disse tantas coisas
Sem que meus ouvidos precisassem ouvi-las
E em meu coração tive a certeza
De que suas palavras são como ventos
Que vêm ao longe e acontecem
Movimentam as folhas soltas
Tocam os sentidos
Mudam a direção daquilo que estava perdido
Esfriam, aquecem
Correm com a pressa de quem sabe aonde chegar
Sem precisar partir
E quando passam por mim
Carregam consigo quase tudo
E a roda gira



3 elementos – 2 corações
A velha brasa guarda no centro a chama, prestes a acordar
Chama que cresce em fogo, fogo que queima e mata,
Devasta tudo ao seu redor.
Primeiro aquece e parece bom,
mas não tem controle, não tem fim, nem direção.
O ar puro, leve, refresca, renova, traz vida a acalma,
movimenta, transforma.
Mas o ar é frio, transparente e intocável.
Apaga o fogo ou acorda a brasa.
É capaz de mudar o curso da água, basta querer,
mas prefere ficar impassível e soprar, lentamente.
A água parece calma, cristalina.
Corre forte ou suave, pode mostrar-se onda,
correnteza, ou ser leve,
Como o orvalho da manhã.
Tem sempre um sentido, uma direção.
Pode ser vista, tocada, bebida.
O ar agita a água, muda, transforma, acorda.
Ambos se fundem e são vida.
Água e fogo são distantes, se olham, mas não se tocam.
Essa é a lei e assim deve ser.
Seu encontro é uma batalha
cujas conseqüências são drásticas, dolorosas e eternas...



Vendaval
O tempo mudou de repente,
Assim, como as coisas sempre são.
E houve um vendaval...
O mar ficou agitado e tudo voou...
Agora se ouvem os trovões
E relâmpagos brilham no céu:
Sinais de tempestade...
Ela vem, purifica, lava
e leva consigo tudo que precisa ir...



Encontrando a Terra
Acreditei no fogo,
Aguardei o Ar,
Só não contei com a Terra.
Eu sou Água,
Posso aquecer-me com o Fogo,
Posso mover-me com o Ar
Mas sei que morro na Terra.
Assim como o orvalho da manhã
Como as gotas de chuva que caem do céu
E a neve no crepúsculo do inverno.
Eu te procuro, te toco, te conheço,
Tu me esperas, me acolhes; me completas.
Tu és meu corpo, eu sou teu sangue.
Por isso o cheiro de terra molhada,
É assim tão perfeito.
Estamos vivos quando estamos juntos,
Sinto o bater forte do coração,
Ouço a respiração ofegante,
O gosto de sangue, suor e saliva,
E já não distingo o que é meu ou teu.
Vejo a vida nascer e sei que ela é nossa.
Pshiiii silêncio – Pode ouvir?
Quando a chuva cai na Terra
O som que se ouve é o bater de asas
De milhares de borboleta,
Elas enchem o meu ser,
Cobrindo o céu dos pensamentos,
Formando nuvens, criando trovões:
A chuva está sempre pronta
Pra cair, se unir a Terra,
E despertar para uma nova vida...



Pequena Lótus
Pequena Lótus do amanhã
Hoje semente recém plantada
Semeada por um amor maior
Que toda a natureza;
Tuas profundas raízes
Encontram na terra molhada a força
Para crescer em flor
De tão rara beleza.
Teu perfume vou sempre sentir
Mesmo que meu toque já não alcance tuas pétalas,
E meus olhar procurará por ti,
Na ânsia e na certeza
De te encontrar dentro de mim.
Teu coração nos sentirá sempre
Que teus pés pisarem a terra,
Que a chuva tocar o teu rosto,
Pois estaremos junto a ti,
Unidos através do tempo,
do espaço e da saudade.
Pequena flor de Lótus,

Escama do grande dragão,
Fruto da mais antiga árvore,
Do mais verdadeiro amor.
Por maior que seja teu caminho,
Nunca esqueça de onde viestes,
E do tanto de nós que
sempre viverá em ti.
Filha amada de nosso coração.

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