Eu, que des.vendo lobos

Moon by Dave McKean


Mais uma vez, é madrugada
e o lobo, lá fora, uiva
enquanto eu, aqui, fico
a observar-lhe. cheia. alheia - não
há outra forma de acontecer
ele me venera. eu, lhe tolero
ele me adora. eu, lhe suporto
como são tantos... como são todas
as noites minhas. como sempre
deveria ser.

alheia

ao uivar, por vezes fico
a imaginar que ele sonha com tudo
poder, conquistar, dominar, encantar
a mim? são tão tolos, os uivos. os lobos
tão pequenos quando aproximo o meu olhar
sentem-se tão diferentes, mas, a mim, parecem
todos iguais: sempre as mesmas garras a arranhar
o chão, o mesmo
uivar a (tentar) ludibriar-me... sempre, a mesma
furia, os mesmos dentes, o fogo no olhar 
a mesma fome - insana. como seria eu
se acreditasse em cada pequeno lobo
que se põe aos meus pés, a uivar
e grunir, e rusnar... instintos
eles não passam de bestas
e como tal se comportam.

fingem uivar por algo maior
fingem servir apenas a mim
quando só uivam
para se mostrar
para se fazer ouvir
por outra qualquer
criatura que lhe caiba
num único abocanhar. eu
que sou tão imensa quanto a própria
noite, tão intensa quanto a própria
fome, tão hostil quanto a própria
furia. eu, nunca, jamais
serei sua
presa.

Comentários

Anônimo disse…
Eu juro que não quero entender esse poema do jeito que estou entendendo.